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A Bíblia do Diabo

Sérgio Bronze

 

Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.

 

O tarô é conhecido por alguns estudiosos como a Bíblia do Diabo e esta ideia, ao invés de nos perturbar, deveria nos levar ao verdadeiro conhecimento que o tarô armazena em seu interior. Setenta e oito arcanos formam um baralho completo. Somando sete mais oito encontraremos quinze, sendo este o mesmo número do arcano que está relacionado ao Diabo. Setenta e oito também é, segundo a Gematria hebraica, o anjo de Marte; o iniciar de alguma coisa; a influência de Kether, como sendo a coroação e a nossa recompensa. O quinze por sua vez é o número místico de Geburah (Marte); daquilo que está oculto; e daquele que nos impele. Por sua vez, o Diabo enquanto uma descrição iniciática é Aquele que nos impele a progredir, que nos fala de uma confusão direcionada que, ao invés de nos prejudicar, nos leva à experiências diretas e maravilhosas conosco mesmo e com o mundo ao nosso redor. O Diabo é um dos dois caminhos que encontramos no tarô, sendo que este está diretamente relacionado a Iniciação e com a busca da nossa Verdadeira Vontade.

Mas por que o Diabo como conceito? Primeiro, devemos compreender que essas ideias sobre Deus e Diabo são invenções humanas para amedrontar os menos lúcidos. Depois, devemos procurar saber que o conceito por detrás de Deus se refere àquilo que é claro e simples, assim como aquilo que se encontra por detrás da ideia do Diabo se refere ao que não é fácil de ser compreendido e que ao mesmo tempo guarda um conhecimento muito mais profundo do que os nossos olhos conseguem enxergar de primeiro. É justamente aqui que se encontra o tarô; há uma grande quantidade de pessoas que estudam e utilizam o tarô, mas poucos que realmente compreendem os profundos ensinamentos contidos nele.

O conceito em relação ao Diabo é muito semelhante ao do Caos, pois ambos representam aquilo que ainda se encontra fora da nossa capacidade de entendimento. Muito deste caos pode ser presenciado quando um estudante novato, e muitas vezes não muito, se depara com os Arcanos Menores. Mas o verdadeiro caos e a verdadeira manifestação do Diabo se faz valer de verdade quando nos deparamos com um jogo de tarô. Primeiramente, porque o tarô não foi “criado” para ser um objeto de adivinhação, de previsão ou de aconselhamento em relação ao futuro, mas para ser uma “Bíblia” do que o ser humano é e como podemos aprender a nos conhecer e a nos relacionar com o outro. Jogos de tarô nada mais são do que um subproduto do tarô ou uma bengala que inventamos para nos confortar; apesar que, por ser uma bengala, pode nos ajudar a caminhar melhor.

Muitas pessoas desenvolvem sistemas filosóficos e iniciáticos baseando-se no tarô, algumas com coerência e outras com não muita. Por ser regido pelo Diabo, todas as possibilidades são permitidas, mas nem todas são passíveis de coerência. Como foi dito acima, o Diabo é a confusão direcionada à um objetivo real e prático. Ele não nos ensina diretamente, mas nos faz aprender através dos nossos próprios erros, alucinações e fraquezas: esta é a essência de como se dá o ensinamento divino. Por não ser sempre claro ou objetivo na sua manifestação, o Diabo nos leva muitas vezes ao erro não por culpa dele, mas pela nossa completa falta de atenção, conhecimento e refinamento. Existe uma profunda simplicidade em tudo o que observamos ao nosso redor, porém é o nosso ego – o verdadeiro diabo que vive no inferno da ignorância – que transforma tudo em complexidade e em uma confusão generalizada.

Podemos pensar que, sendo o tarô regido pelo Diabo, este possa ter sido presenteado à humanidade por uma consciência muito superior a nossa. Sempre se tentou dar uma origem ao tarô e nunca nenhuma explicação se mostrou coerentemente satisfatória. Na verdade, percebemos que a profundidade que se encontra por detrás do tarô e a sua origem desconhecida, nos levar a pensar que sendo o Diabo quem Ele é, que o mesmo, isto é, o tarô, possa ser um presente Dele para a humanidade.

Sempre se falou no meio esotérico que o Diabo é Deus ao inverso. Deus é a complexidade da Criação, enquanto que o Diabo é a simplicidade da mesma. Por outro lado, Deus nos ensina de maneira simples e fácil, sem grandes tropeços, enquanto que o Diabo não. Se ambos se complementam ou fazem parte de uma mesma Essência, poderíamos nos enxergar como Deus, tendo o Diabo como o nosso guia. Assim sendo, as explicações mais superficiais sobre o tarô seriam ensinamentos de Deus, enquanto que as mais profundas – ou as verdadeiras correlações – seriam ensinamentos Dele. Da mesma maneira como ocorre com a Bíblia cristã que pode ser interpretada pela visão de Pedro ou pela visão de João.

É mais do que óbvio que tudo isto que foi escrito são alusões simbólicas, onde buscamos explicar que existe uma maneira errada e uma maneira certa de se estudar e de se utilizar o tarô. Por outro lado, buscamos explicar em poucas palavras que os mesmos símbolos possuem um sentido verdadeiro e coerente, baseando-se na experiência com o divino [em nós].

 

Amor é a lei, amor sob vontade.

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