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A Câmara do Meio

A Câmara do Meio é aquele local onde o Adepto se despe de tudo aquilo que ele acreditava, a fim de ser um novo Homem e poder enxergar o esqueleto que ele é. Porque o futuro Mestre deve se identificar com o Arcano XIII, a Morte, aquele que corta e despedaça o Rei da Razão e a Rainha da Ilusão. Neste Arcano vemos a carne que se desprende dos ossos. 

 

Podemos observar que dentro da maçonaria estão ocultos os mais profundos Mistérios da Iniciação, mas quando digo “ocultos”, estou querendo dizer que a maioria dos seus membros desconhecem verdadeiramente o significado por detrás dos símbolos. 

 

Na seguinte passagem, é possível perceber um detalhe importante que poucos maçons conseguem compreender: 

 

Tal é, eis, a irreparável catástrofe prevista pelo Ritual: o Espírito não mais governa. O Arquiteto do Templo está morto, e ninguém é capaz de substituí-lo. Os Mestres que recebiam suas instruções estão desamparados. Estão reunidos na Câmara do Meio, mas avaliam a situação sem saída e se abandonam à dor de não ter à sua cabeça o sábio Hiram, detentor dos supremos segredos da Arte de construir.” 

Ritual do Adepto - Oswald Wirth 

 

Hiram representa o nosso Sagrado Irmão e os seus assassinos são as nossas Personalidades que nos matam. O objetivo, portanto, é erguer o Templo de Salomão, que é o novo Corpo do Homem. Hiram é o Arquiteto, pois é ele quem escolhe os materiais que serão utilizados na construção deste novo Homem, enquanto que nós somos os construtores deste novo Templo em que devemos habitar. 

 

As alegorias são perfeitas, mas as descrições dos símbolos, imperfeitos. É tanto simbolismo e tão poucos para decifrá-los, que a beleza da alegoria se perde nas palavras, gestos e sinais. É, também, inegável a semelhança entre Hiram e o Cristo; a sua noção de morte e a tentativa de ressuscitar o Arquiteto. O cheiro cadavérico que a maçonaria expele é algo incontestável. Eles buscam pelo cadáver de Hiram quando não percebem que todos reunidos em Loja são o próprio Arquiteto. Os nove Mestres que saem em busca do cadáver deveriam ser sábios e loucos o suficiente para perceberem que eles são agora o Grande Arquiteto. Pois onde mais poderia estar o túmulo do Mestre senão dentro de cada um de nós? 

 

Com a morte do Mestre nós somos os cadáveres agitados dentro de seus túmulos. Sendo assim, deveríamos querer ser aprendizes de uma nova arte, companheiros da verdade e da justiça, e mestres de nós mesmos. Infelizmente, a morte está ali enraizada e é quase impossível livrá-los desta tendência. E quando eles acreditam que o Mestre ressuscitou, nós vemos apenas um fantasma e um templo mal ordenado na Casa de Deus. 

 

Putrefação é tudo aquilo que se é conseguido, mas onde estão os outros estágios da Obra? Hiram como Osíris não quer mais governar os vivos e assim ele deixa de ser o que ele era. Por isso eu vi Baphomet oculto em um quadro, mas poucos viram e ainda muito poucos foram os que compreenderam. Hiram não ressuscitou por completo, porque partes dele ainda estavam desaparecidos e o único Mestre que estava ali lhe virou às costas. O que aquele Mestre viu ali era, o egoísmo de uma obra, a felicidade individual, a glória pessoal [...] daqueles outros mestres. Sim, um idealismo, mas apenas um idealismo que não se concretiza. Se o aprendiz não aprende, se o companheiro ainda assassina e se o mestre ainda nada sabe, é porque o Templo não tem uma pedra fundamental ou porque o Arquiteto ali não chegou, isto é, os Superiores Desconhecidos ali não habitam. 

 

Para que tudo siga corretamente: que o Aprendiz reflita; que o Companheiro esteja atento; e que o Mestre aprenda para que possa ser chamado à Vida. Assim, eles irão na direção do Gênio. Portanto, nada pode ser profanado por aquele que desconhece o Sagrado e se a Obra do Templo nunca termina é mais por uma questão de deficiência estrutural do que pela falta de um bom projeto.

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