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Liber de Natura Opus

Frater A.A.A.N.

 

Publicação em Classe C.

 

 

I

 

Aquela besta corria pela natureza movida pelos seus puros instintos ou confinada segundo sua natureza para a realização de alguma obra desconhecida. Seu mundo era apenas duplo, pois assim era a sua natureza. Por suas diversas andanças, entre idas e vindas, esta besta encontra aquele a quem ela vê como Deus e este Deus se afeiçoa a ela. Desta relação surge a compreensão por parte de Deus da dedicação da besta por ele e um sacrifício final é realizado. Este profundo ato de amizade é selado pelo sangue que corre, pela dualidade que se torna unidade.

 

II

 

E quando a Alma se torna única, ela assume a sua forma feminina divina e nesta forma ela caminha durante um longo tempo pela Terra, até conhecer aquele único e verdadeiro amor. Este amor quando caminha ao lado dela, faz despertar nela o seu lado masculino, pois o seu dever é convergir em si mesmo a plena experiência dos opostos. Deste encontro a vontade se ergue pelo conhecimento do amor, e ambos caminham lado a lado. Desta perfeita união de fêmea e macho surge aquela criança tão querida por nós. É, portanto, esta criança quem nos faz retornar ao seio de nossa Mãe.

 

III

 

O Amor é sempre a única fórmula de união, pois é o Amor que diferencia as bestas dos deuses, e ao mesmo tempo os une por toda a eternidade. E quando se encontra o Amor se é incapaz de ver as coisas separadas umas das outras, pois é da natureza do Amor unir até mesmo aqueles elementos que não querem se unir: ou por defeito de criação ou por defeito de cultura. Aqui temos o defeito da mente e o defeito do sentir, nossos infernos. Ambas são atacadas individualmente, sempre se utilizando da mesma arma.

 

IV

 

Mas a Alma daquela mulher é inocente por sua própria condição e são os filhos que ela gera quem lhes mostra a sua dedicação e mesmo nisto há um terror. Ela ainda se esforça em querer se comportar como uma besta selvagem e seus instintos apurados se conflitam com aquilo que não é mais. Entre um acidente e outro a natureza segue o seu caminho, e a evolução segue naquele caminho do Amor. E por este sacrifício feminino, que é tão louvável, ela foi escolhida para representar todos nós que seguimos superando nossas limitações na direção de Deus. Ela é amada e reverenciada como o Alpha e o Ômega.

 

V

 

E ela que amou aquele que ela chamou de “meu deus do amor”, pode seguir para aquela outra condição entre tantas outras condições. Sua alma se fundiu com aquela de seu Amor e ela passou a viver nele, se apossou do corpo dele e ela se tornou em macho, pois ela completou em si o círculo da vontade e já pode experimentar o amor que se avizinha. Nesta nova condição a evolução assume um novo caminho, nem melhor e nem pior, apenas uma nova condição. Isto nem sempre foi visto por aqueles que não compreendem a natureza como um ato de Amor, e que olham as bestas no campo ou em serviço e as tentam aprisionar. Para nós, ela representa o esforço sublime do Amor, que tudo equilibra.

 

VI

 

Nós seguimos agora fortalecendo a vontade em nós, apoiando-nos no amor que conhecemos no colo delas e avançamos. Por séculos vivemos em solidão esperando por ela e por aquele o qual chamamos de Deus. De onde vemos o universo não conseguimos vê-la na Terra e nem a Ele no Céu, e, no entanto, lá eles se encontram: ambos atraindo e repelindo. Que condição infeliz é a nossa: ela não nos vê e Ele não nos reconhece. Caminhamos pela selva de nossa natureza, como aquelas bestas selvagens que tanto nos ameaçam e mesmo assim progredimos.

 

VII

 

Somos o fruto de um Amor que não conhecemos, mas que nos faz sermos exatamente como somos. Aos poucos tudo o que somos vai se perdendo, certamente que uns enlouquecem por um tempo, enquanto que outros que já enlouqueceram caminham em sua solitude. Deus não nos ama. Ele nada quer de nós além das nossas obrigações, tudo mais para Ele é maldição. Maldito! Maldito! Tudo foi entregue por causa Dele e Ele volta às costas para nós, suas amantes. Mas quem precisa de Deus? O que Ele é que nós mesmos não sejamos? E percebemos que tudo o que estamos entregando é por nós e não por Ele.

 

VIII

 

Assim, depois daquele tempo que se faz necessário, a fêmea e o macho se unem, e uma criança nasce do Amor deles. Ela nada lembra seu pai e nem sua mãe, pois as crianças, fruto do nosso amor, são únicas nelas mesmas. Elas devem encontrar uma casa onde morar, serem cercadas e protegidas pela Palavra que as criou. Sim. O que elas escutam em primeiro é aquela Palavra que as tirou dos campos e do serviço sem vontade, que as fazem ser puras e inocentes como as bestas. Estas crianças amam suas mães pelo Amor e seus pais pela Vontade. E elas não fazem qualquer distinção, pois existe agora a compreensão de ser fêmea e de ser macho na natureza.

 

IX

 

A criança de nossas entranhas crescerá em força e vigor, pois esta é a sua condição natural. Nunca há retrocesso na natureza, salvo em um caso e mesmo ele é temporário, mas que provoca um distúrbio passageiro. No que esta criança irá se tornar até ontem era desconhecido, mas hoje podemos ver que ela brincará com alguma besta da sua escolha, até que ela por necessidade de sua condição degolará aquela besta e se fartará em sacrificar. Ela manchará a Terra com o sangue e colocará aquela cabeça no lugar da sua, para poder contemplar o infinito da natureza em toda sua perfeição. Ela será aquela quem estenderá a mão e quem ensinará os deuses; quem falará aberrações na praça do mercado; quem destruirá maldições; quem confrontará os seres com a morte...

 

X

 

Entre todos é ela quem se erguerá no fim dos tempos: quem salvará as bestas do campo; quem levará o Amor ao coração de toda mulher; quem manipulará a Vontade de todo homem. Ó Criança Coroada, cuja Palavra é o Silêncio. A Terra será sempre a tua morada tão querida, sim, a tua morada tão querida.

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