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Mirabilitas Naturae

João da Rosa

 

Como pode um pecador entrar no Reino dos Céus? Como que aquele que não possui pés para andar pode caminhar em direção da Casa do Senhor? Devo dizer, sem medo de estar errado, que a Casa do Senhor tem as suas portas geralmente fechadas para o homem. Poucos são aqueles que são convidados a entrar no Jardim do Palácio, mas para a grande maioria a porta do Jardim só se abre naquele Milagre da Natureza, mas que todos, em sua maioria, temem. Mas o que é ser um pecador? Que fique então compreendido de que são as restrições impostas pelo próprio homem ao homem que o torna em um pecador dos mais vis. Tudo aquilo que há de ir contra a natureza pura do homem, restringindo-o a uma condição antinatural é a sua própria desgraça e morte antecipada.

 

O ser humano é composto por valores, valores estes que muitas das vezes é contra a condição divina que o habita. Assim sendo, Deus nele vai aos poucos deixando de ver, de falar, de ouvir, de sentir... O homem divino deixa gradativamente de existir e quando percebe, não passa apenas de uma casca morta, restringida pela falsidade que rege na natureza do Diabo. Apesar dos desejos humanos, sejam eles quais forem, serem reflexo de uma Vontade divina, estes desejos devem ser refinados a tal ponto de deixarem de serem desejos.

 

Mas o que vemos o que este homem carrega na direção da sua morte? O que ele carrega na direção do Jardim do Palácio de Deus? Ele carrega aquilo que ele acha que é, quando que ele deveria ir nu bater à porta de Deus, mostrando para si aquilo que ele é. Mas o homem parece ter vergonha de si mesmo, da beleza que ele carrega em si, e por causa desta vergonha ele se aproxima do Jardim e sequer se encoraja de bater em seu portão. Então ele irá se sentar fora do Jardim de Deus com todos aqueles que, como ele, se restringiram e temeram os seus atos. O que apavora este homem é o medo pelo desconhecido, o medo do diferente, o medo das mudanças tão naturais.

 

Acostumado a ouvir, ver, sentir [...] sempre aquilo que ele deseja, o portão do Jardim o assusta ao mesmo tempo em que o fascina, mas a restrição imposta pela covardia que sempre foi lugar comum, o impede de ir e de ser como Deus deseja. Este homem então prefere se manter sob a terra, restringido em sua percepção e cuja secura jamais poderá ser saciada pela fonte que se encontra diante dele. O Diabo o ensina a sofrer e ele se acostuma, e passa a achar tal condição degradante como algo comum e natural, e se rebela contra qualquer movimento que venha libertá-lo. Nem o fogo e nem a água são capazes que movê-lo, e o vento viciado do submundo é o único alento que ele deseja.

 

Pobre homem! Ele não consegue entender que o Céu e a Terra são absolutamente a mesma coisa em Natureza e aqui está o verdadeiro milagre da Criação do mundo. As trevas são apenas uma condição passageira, pois é necessário conhecer as trevas para compreendermos que as luzes são a nossa morada prometida, o verdadeiro Reino de Deus. Se houve alguma separação, entre luzes e trevas, é para que haja um prazer maior na união de ambos; este prazer está na compreensão da necessidade de transitarmos entre ambos sem preconceito, mas com atenção.

 

Hermes nos diz que: aquilo está em cima é absolutamente igual ao que está em baixo. Portanto, não existe qualquer diferença entre uma coisa e outra, pois todas as coisas existentes na criação foram feitas para se complementarem em prazer. Aqui reside o maior segredo de todos os segredos que a mente do homem concebeu. Tolice! Só existe segredo onde existe a ignorância do Milagre da Natureza. Nós assim chamamos de “Milagre”, pois é a maravilha das maravilhas e o lugar de conforto dos corpos, de regozijo e refinamento. E mesmo assim há homens que preferem ver apenas em uma direção quando diversos são os caminhos, quando ele mesmo está de pé diante do horizonte. Sim. O homem ama aquilo que ele mais teme e mesmo assim ele sequer sabe amar de verdade. Ele passa a vida toda se preparando para a sua morte, odiando-a e, secretamente, amando-a. Quando, em verdade, ele deveria se preparar para a eternidade que é o seu verdadeiro Destino.

 

O homem não é passível de pena e nem de misericórdia, pois aquele que sofre e aquele que faz sofrer são merecedores um do outro, por causa do pecado em que eles se confinaram por conforto. E ao mesmo tempo existe uma beleza em todas as coisas, como uma praça de mercado onde vendedores onde compradores e observadores fazem parte de uma mesma ação. Que maravilhosa é a vida do homem: onde pequenos atos se transformam em atos grandiosos!

 

Infelizmente, poucos serão aqueles que darão atenção a estas minhas palavras, apenas por não ser doutor nas matérias dos homens. O gênio humano não possui uma única morada, ela se vê até mesmo naquele mais humilde dos homens, que sem instrução conhece os elementos da Natureza com muito mais precisão do que os aparelhos de um laboratório. Só quando o homem sair de seus castelos e tiver a humildade de sentar-se à mesa e ouvir o mais humilde dos homens é que ele começará, realmente, aprender alguma coisa.

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