Sérgio Bronze
Instituto Aleister Crowley
O Caminho da Mão Esquerda
O Caminho da Mão Esquerda pode ser compreendido através das polaridades energéticas que habitam o corpo do homem, do animal macho. O lado direito do macho é masculino, ativo, violento, etc., etc. Já o seu lado esquerdo é feminino, passivo, amoroso, etc., etc. O contrário se dá na mulher, mas neste caso em específico, a mulher não era bem vinda ao trabalho, por uma questão simples: o medo que os homens sempre sentiram das mulheres. Baseando-se neste conceito, e como vivíamos em um ambiente patriarcal, tudo que fosse feminino ou que remetesse a tal ideia já era por si só mal visto. Daí, também surgiu a ideia que se utilizássemos da mulher (nosso lado sensitivo) seríamos escravizados pelo prazer e pelas artimanhas femininas no trabalho místico. Daí, para que tudo fosse manipulado, foi um passo rápido para que o tantra da mão esquerda fosse demonizado por muitos. Vale lembrar que vivíamos, não apenas em um período patriarcal, mas em um período onde as noções de pecado e de sofrimento eram tidas como realidades incontestáveis, na mente iniciática da Escola de Magia que regia aquele período. A ideia de que a sexualidade pudesse ser exercida com prazer e alegria (que não era a moral regida por Virgem) era vista como um pecado. Aliás, tudo relacionado ao corpo, com a matéria, era visto como uma ilusão causadora dos males humanos, i.e., a raiz de todo o sofrimento humano. Como se isto não bastasse, alguns Irmãos Negros criam a ilusão de que os fluídos sexuais deveriam ser retidos ou reabsorvidos pelos praticantes, pelas maneiras mais esdrúxulas, em uma clara alusão a ideia de não se gerar entidades astrais que pudessem obsediar a mente limitada deles. Obviamente, que derramando ou não fluídos, estes seres astrais são gerados de qualquer forma, exceto em um único caso.
Curiosamente, por muito tempo, as mulheres foram vistas como peças importantes nos trabalhos mágicos [e místicos], e ao mesmo tempo relegadas para um segundo plano. Atualmente, elas são cobiçadas, mas desaprendemos completamente em como utilizá-las e como elas também desaprenderam, observamos todo o tipo de confusão. O Caminho da Mão Direita visto por muitos como o mais seguro e, até mesmo, o mais sagrado, é na prática o mais estéril e o que menos resultado apresenta. A falta da noção da troca de polaridade leva a resultados incompletos e às mudanças pouco significativas. Porém, devo confessar que o Caminho da Mão Esquerda é complicado para o praticante sem uma preparação prévia e ainda enraizado em suas paixões. No entanto, qualquer caminho é complicado para qualquer um que não possui preparação e inteligência adequadas. Os praticantes do Caminho da Mão Esquerda são acusados de todos os tipos de idolatria, de se deixarem “vender” pelas ilusões e pelos prazeres “descontrolados” da vida, como se estes tivessem vendido a alma ao diabo. Os demais são considerados místicos e homens santos, quase sempre abobalhados por negarem uma condição básica da existência, que é a própria vida. Os irmãos e irmãs do Caminho da Mão Direita são incapazes de compreenderem nossos atos, pois também falta a eles uma condição que infelizmente muitos não possuem: a coragem de aventurarem no desconhecido.
Estes dois conceitos são usados para designarem o mesmo tipo de trabalho, através de métodos diferentes. No entanto, no final das contas, estes métodos diferentes acabam por resultar em trabalhos diferentes, em resultados bem diferentes. Se o objetivo final de tudo é o entendimento da visão e da voz do Divino, compreendemos que o mesmo é completo, i.e., formado de luz e treva. Do choque ou colisão de ambas surge a verdadeira Luz da não ilusão. Caminhos incompletos, cheios de escaramuças, certamente não levará ninguém à Luz.
Sérgio Bronze