Sérgio Bronze

Euclydes Lacerda de Almeida

Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.

            O Livro da Lei, ou Liber AL, tecnicamente designado por vários nomes e números, e traduzido para o hebraico simplesmente como SPR HThVRAH (Sepher Ha Torah), tem como valor, por Gematria, 956.  Sendo este o número de ShMH RQH, uma desolação e um sibilar, pode ser uma ostensiva e malévola frase que pode bem ser aplicada ao Livro, por aqueles que o olham como “uma blasfêmia a todos os deuses dos homens”.  Se o nome for traduzido diferentemente como SPR HThORA (1016), então a atribuição de “silvos” ou “sibilar”, ShRIQVTh (1016) retorna e começa a requerer uma profunda consideração.

            Observando a cifra de ShT (sendo XXXI) como a chave mestra de Liber AL, Aleister Crowley escreve:

“O sibilante S ou Sh é nossa palavra (inglesa), e também a hebraica “Hush”, um “S” fortemente aspirado, e sugere o silvo de uma cobra…  E Teth significa serpente, o símbolo da Vida Mágica da Alma, senhora da “dupla baqueta” da vida e morte.  A serpente é real, encapuçada, sábia, silente salvo por um silvo quando necessita mostrar sua vontade…”

O Equinócio dos Deuses, págs. 101 e 102.

            Torna-se também sutil notar que HShRQH HNChSh, o silvo da cobra, é 973, o número de RAShIThHAVN, o começo da força ou da fraqueza, se a palavra AVN for interpretada de maneira diferente.  Tendo o mesmo valor que SVD ChKMTH, segredo da sabedoria da alma.  A direção da investigação, portanto, torna-se clara: considerar as palavras de Liber AL como veículo da Vontade da Serpente; ou de algo completamente desconhecido do ser humano.

            No Magia em Teoria e Prática, Crowley declara:

“A Besta 666 tem preferido deixar os nomes como eles são, e proclama simplesmente que AIWAZ - o Solar Hermético Fálico, “Lúcifer” é seu próprio Sagrado Anjo Guardião, e “O Diabo”, SATAN ou HADIT de nossa particular unidade com o Universo Estelar.  EstaSerpente, SATAN, não é o inimigo do homem, mas é Ele quem cria Deuses de nossa Raça, conhecendo o Bem e o Mal; Ele determina “Conhece-te a ti mesmo”, e ensina Iniciação”

Nota, pág. 296.

            A identificação de Hadit com a Serpente está feita através do Liber AL em frases tais como: “…a alada chama secreta…” (AL, I, 16); “…a chama da Serpente…” (AL, I, 61), “…da Estrela & a Cobra.” (AL, II, 21); “Eu sou a secreta Serpente enroscada pronta para pular…” (AL, II, 26); e “Ó alada cobra de luz, Hadit!” (AL, III, 38).

            Entretanto, a passagem que mais completamente justifica a definição de Crowley é o verso de AL, II, 22, que começa assim:

“Eu sou a Cobra que traz Conhecimento & Deleite e brilhante glória, e excito os corações dos homens com embriaguez…”

            A principal palavra hebraica para Cobra, ou Serpente, é NChSh (358) que é equivalente, por Gematria, a MShICh, Messiah, o Ungido.  É também equivalente a AVR HOLVLM, a Luz do Mundo, e a BAH LAShTI, Bahlasti, a maldição de AL, III, 54.  TITh (419), Teth, é o nome da letra do alfabeto hebraico, que por seu desenho é o glifo da Serpente, embora o próprio nome não apareça como sendo usado para serpente.  Entretanto, sua significação é reconhecida neste verso pelo fato de que ANI NChSh, Eu sou a Serpente, soma 419.

            ANI HNChSh HNThN, Eu sou a Serpente que dá, tem por Gematria 929.  Este é o número de PRI OTz HDOTh, Fruto da Árvore, tanto quanto de AVTzRVTh TzPVN, tesouros do norte.  Tzaphon, Norte, é mais corretamente o “oculto” ou “oculto quadrante”, e o nome hebraico para TYPHON; portanto, a frase pode ser traduzida como “os Tesouros de Typhon”.  Os “frutos” ou “tesouros” dados pela Serpente são primeiramente, “Conhecimento & Deleite”; estes indicados por maiúsculas, devem provavelmente ser considerados juntos.  Várias traduções são possíveis, porém a mais interessante é DOTh VChShQ.  É formada de DOTh, “Conhecimento” (474), V, “e”, (6), e ChShQ, “Deleite”, paixão, desejo, (408).  Juntos somam 888.  Como 888, o “Conhecimento” e “Deleite” da Serpente desperta LHTIM HNSTh - RIM HADIT (888), o Secreto Ardor de Hadit (AL, I, 14).  E dá a expressão a ChPTz NSThR (888), a Secreta ou Oculta Vontade.

            Sabemos que todas estas letras e números são extenuantes, mas devemos prosseguir.  As desvelações que se seguirão são ainda mais importantes.

            Em adição a isto tudo o que já foi dito, está a “Luminosa Glória”, da qual, outra vez existem várias traduções.  É bastante interessante notar que KBVD ZIV HNChSh, a Glória Luminosa da Serpente, soma 418 (o número da Grande Obra), e que 888 é a soma de 418 e 70 - um número de considerável significação, como será demonstrado.  Entretanto, tomando “Conhecimento & Deleite e brilhante glória” como um todo, temos DOTh VChShQ VHVD ZIV e sua numeração 932.  Também o valor de OTz DOTh TVB VRO, a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, da qual o fruto é proibido, mas que era “uma árvore desejada para dar Sabedoria”.  Existem duas outras traduções que devemos considerar.  Primeiro, DOTh VODN VK BVD TzCh soma 740 e iguala com HACh DVTh HShVH, a “Unidade Indiferenciada”, um termo usado para AIN (Nada), o Vazio além de Kether, e sugerindo que a Cobra pode dar uma percepção desta ultimal realidade.  Existe uma tentação para identificar este conceito Cabalístico de Unidade Indiferenciada com a concepção hindu de TURIYA.  Isto tem sido suficiente definido por Kenneth Grant como:

“Pura indiferenciada Consciência que é absolutamente destituída de toda construção do pensamento.  É uma constante Única Realidade, é a Única Realidade, subjacente aos três estados de consciência conhecidos como JAGRAT (Consciência Mundana ou Vigilia), SVAPANA (Estado de Sono), e SUSHUPTI (Sonho Sonhador).”

        Possivelmente, acreditamos que, os três elementos de “Conhecimento & Deleite e brilhante glória” devam ser identificados com estes três estados de consciência.

            Outra tradução é DOTh VONG VKBVD BHIR, numerando 888 e igualando com NShMTh ChIIM, o alento da vida.  Esta é particularmente interessante com referência a AL, II, 6, onde Hadit declara:

“Eu sou a Vida e o doador da Vida…”

            NThN HChIIM, o “doador da vida”, tem como número 573 - aquele de NChSh HQDMVNI, a Serpente Primordial, a Serpente do Gênesis.  573 é também o número de RVCh HSh MTH, o Espírito do Æon.  A palavra hebraica “Shemitah” literalmente significa “remissão” ou “libertação”, com referência a um fixo período de tempo.  Na Cabala judaica é tomado o significado extensivo de um período de desenvolvimento cósmico, uma idade do mundo - em resumo, de um Æon.  HShMTh, o Æon, tem o número 359, que é o mesmo de ShTN, Shaitan.  Daí, presumesse que, o doador da vida não é outro que o Espírito de Satan.

            A cobra também agita “o coração dos homens com embriaguêz”.

Crowley declara:

“Embriaguêz é uma maldição e uma prisão somente para escravos.  Qualquer homem que esteja fazendo a sua Verdadeira Vontade estará embriagado com o deleite da Vida (…) a intoxicação, isto é, êxtase, é a Chave para a Realidade.”

Comentários Mágicos e Filosóficos, págs. 197 e 174.

            A palavra embriaguêz, ou intoxicação, é ShKRVN (576) ou ShKRVTh (926).  576 é o número de KShRVN, sucesso ou prosperidade.  926 é o número de HBRITh ShT, o Concílio de Set, pelo qual está compreendida a experiência de tudo que a fórmula de Set, ShT, Shin Teth, implica - em particular, a Realização do Espírito na Carne.  926 também iguala com ThNIN HThHV, o Dragão do Caos, indicando o erguimento das energias primordiais da alma.  Por outro lado, a Embriaguêz da Cobra é ShKRVN HNChSh (939) e é equivalente a OLITh HNSh MH HADIT, o êxtase, ou mais precisamente, a “exaltação da alma de Hadit”.  Além do mais, ShKRVTh HNChSh (1289) possui o mesmo número como MPThCh HSPIRVTh, a chave das Sephiroth, sendo um meio de acesso à diferentes esferas da consciência, representada pela Árvore da Vida, sobre os Ramos da qual a Serpente da Sabedoria está enroscada.

“Para adorar-me tomais vinho e estranhas drogas das quais Eu falarei ao meu profeta…”

AL, II, 22.

            A adoração da Cobra - Hadit - é realizada através desta intoxicação de Si Mesmo, e os agentes desta invocação do Mais Íntimo - esta ascensão da Oculta Verdade - são “vinho e estranhas drogas”.  Está claro, pelo menos acredito que sim, que o instruído uso de tais exóticas ou estranhas drogas como o haxixe, psilocybin, mescalina e outras, positivamente erguem a Serpente Secreta do Si-Mesmo, nossa Mãe Kundalini.  Porém, Kenneth Grant tem concluido que:

“Pesquisas nos mistérios de AL tornam duvidoso se as drogas e o vinho referidos são intoxicantes como usualmente entendidos.  Podem ser referência aos Kalas ou “vibrações” vaginais, as quais prévias alusões têm sido feitas.”

Aleister Crowley e o Deus Oculto.

            Análise Cabalística da frase original poderá servir para o esclarecimento do assunto.

            A palavra hebraica para vinho é IIN e a sua Gematria é 70 - que é o valor da letra Ayin, olho, atribuída ao Atu XV, o Diabo.  É também o número de SVD, um segredo, e de “HSH”, hush, “Silêncio”!  Em sua discussão da “Psico-Sexual Substância da Sombra”, K. Grant anota:

“Vinho é assimilado no simbolismo dos Kalas ou vibrações ophidianas que são geradas e tornadas vibrantes pela invocação mágica da Serpente de Fogo.”

O Culto das Sombras, pág. 12.

            A palavra SMIM (150) significa drogas, aromatizantes, especiarias doces, ou venenos; e “de estranhas drogas” existem duas formas: SMIM ZRIM e SMIM NKRIM, sendo 407 e 470 respectivamente.  Os SMIM ZRIM (407) estão associados com ADVNIM HARTz, os senhores da terra e com LHT HNChSh, a chama da Serpente, que é Hadit (AL, I, 61); e também com DRAVN OVLM, “horror eterno” (Daniel, 12, 2) e ShMNTVB, o “óleo precioso”.  Em combinação com o vinho como IIN VSMIM ZRIM eles produzem 483, o número de MZLVTh, constelações ou estrelas, e de ThVOBH, uma abominação.  “Estrelas” é um dos significados de “Kalas”, e uma assim chamada “abominação” pode sempre ocultar um mistério secreto.

            Pode ser construtivo examinar a Cabala de outras formas de drogas estranhas, SMIM NKRIM (470), em comparação com a definição de Grant sobre os Kalas:

“Kala-s (Sânscrito): literalmente “Tepo”, ou média periódica; também essência, raio, perfume, estrelas, flor, símbolo de Kali a suprema Flor (flow = fluxo, corrente, etc.; er = indica ocupação, residente em, ou, proveniente de) ou emanadora periódica de mundos.  Existem 32 Kalas maiores no cosmos, representadas pelos 32 Caminhos da Árvore da Vida que contém as cósmicas zonas de poderes, e as 16 Kalas emanadas pelo organismo humano; 8 no homem e 8 na mulher…”

Culto das Sombras.

“…os Kalas são como venenos ou drogas viciantes que todos os Thelemitas buscam se embriagar.  Uma vez que a gota toca os lábios o vício abominável tem início(…) e tu caminharás por um Jardim…”

Manuscrito (K. G.).

            470 é o número de OTh, tempo, duração, estação; como também de DVR DVRIM, era das eras, ciclo dos ciclos: eternidade; também de ThLM,  abrir à força, um rêgo, canal; tanto quanto ZVB TMAThH, o “fluxo de sua impureza” (Leviticus, 15, 25).  A passagem citada (de K. Grant) acima continua:

“…os Kalas, de variada coloração, deram seus nomes às cores, e sua periódica manifestação aos ‘calendários’; conceitos e palavras de pensamentos e conversação diárias.  Mas a principal Kala, ou cor, é Kali que significa Negra…  Negra tem referência aos mistérios do sexo e morte, e a razão para o até agora inexplicável asserção que ‘Osíris’ é um Deus Negro.  Set ou Sut (soot=fuligem) também significa ‘o Negro’ ou ‘queimado’; e a, assim chamada, ‘magia negra’ derivou-se de idéias cognatas que pré-datam a magia branca dos Cultos Solares.”

            470 é também o número de PORNO, relativo às “prostitutas”, ou medium de explicita sexualidade; OQSh, ser perverso; OShQ, opressão, violência; ShQO, baixar, abster-se e descer; MLK MTzRIM, o Rei do Egito, isto é, Osíris; e de KMRIR, escuridão, escuro do queimado.  A maior parte desta Cabala é plenamente auto-explanatória da comparação com o texto definitório de K. Grant.

            Além do mais, 470 é o número de GNTh AGVS; o “Jardim das Nogueiras”, referido em Cantares, 6, 11:

“Desci ao Jardim das nogueiras para olhar as flores do vale, para ver se brotavam vinhas, se floresciam as romeiras.”

            O simbolismo do Jardim é essencialmente sensual e a natureza Tântrica desse verso, com suas alusões aos Kalas, está evidente.  Em hebraico, o verso começa com a a palavra Al, aqui denotando movimento para, e a frase “flores do vale” é ABI HNCHl, enumerado como 13 e 93, respectivamente.

            A Cabala de 470 é ricamente Tifoniana, e transmite um potente elemento de oculta sexualidade que não conhece limites.  Algumas de suas manifestações podem parecer como “perversas” ou “bizarras” de um ponto de vista geral, participando como elas participam da essência da, assim chamada, “negra” tradição mágica.  É o propósito de PORNO existir luxuria, e 470 certamente reduz a 11, o número do Atu XI, Tesão ou Luxuria, sobre a qual escreve Crowley:

“Existe nesta carta uma divina embriaguez ou êxtase.  A mulher é mostrada mais que uma simples bêbada, e mais que uma simples louca; e o leão também está inflamado com ardor (tesão).  Isto significa que o tipo de energia descrita é de uma primitiva e criativa ordem; completamente independente do criticismo da razão.  Esta carta retrata a vontade do Æon.”

O Livro de Thoth, pág. 95.

            Também precisa ser dito que o número 470 é o número de HChDVTh HChLD, a alegria do mundo (AL, II, 21).  Finalmente, retornando às instruções de AL, II, 22, a soma de IIN VSMIM NKRIM, vinho e estranhas drogas, é 546.  Este é número daquelas ShQVTzIM, abominações, que transmitem HChPTz HNChSh, a Vontade da Serpente, também é igual a 546.  Esta última sendo o subconsciente ou oculta vontade do Secreto Si-Mesmo, e em sua realização é Una com a Vontade do Æon.

            Isto, entretanto, é OBVDH HNChSh, adoração da Serpente, cujo número é 450.  Este número sendo aquele de PRI OTz, fruto da árvore; RTzVN BAIN GRVL, vontade ilimitada; e de PShO, transgressão, pecado, rebelião, ou vício.

            Em Liber AL, II, 52, nos é declarado por Hadit:

“…não veleis vossos vícios com virtuosas palavras: estes vícios são meu serviço; vós fazeis bem, & Eu vos recompensarei aqui e daqui em diante.”

            A palavra OBVDH significa adorar, ou serviço.  Aqui está a confirmação, portanto, do uso das energias Tifonianas de 470 e de suas manifestações como subtendidas sob o título de “estranhas drogas”.

            Em AL, II, 22, conclui:

“…Eles não vos farão mal de forma alguma.  Isto é uma mentira.  Sê forte, ó homem!  Cobice, goze todas as coisas de sentido e raptura: não temas que qualquer Deus te negará por isto.”

            Menção tendo sido feita da adoração, a referência agora é feita ao “ardor” da Serpente.  A completa frase é:

“…o ardor & adoração da Cobra…”

AL, III, 34.

            Em hebraico é HThAVH VOBVDH HNChSh e sua Gematria é 873, que também denota IThChSh HOVLM, renovador do mundo.  ThAVH, ardor (tesão, luxúria), desejo, tem valor 412; e OBVDH, adoração, tem valor 87.  Em Liber AL eles são ligados por um &, que podemos igualar com a letra hebraica “vav”, 6.  Agora, se 6 é somado ao número 412, temos 418, o número de ABRAHADABRA; enquanto, se for somado a 87, temos 93, THELEMA.  Em suas combinações, então “ardor & adoração” representam a maior fórmula mágica e mística da Corrente Thelemica incorporada em Liber AL.  Sua substância é o “deleite” de “todas as coisas de senso e raptura” que postula o uso de “vinho & estranhas drogas”.  Comentando sobre esta passagem e outras similares, Crowley diz:

“O Thelemita está apto a divertir-se em qualquer experiência; em cada uma ele reconhece os sinais da Verdade Ultimal.

Nós portanto, treinamos nossos adeptos a fazer o Ouro Filosófico do esterco das feiticeiras, e o Elixir da Vida de Hippomanes; mas não advogamos vícios ostentosos para estas operações.”

Comentários Mágicos e Filosóficos, págs. 198 e 238.

            Estas declarações de nosso pai, aplicam-se mais diretamente às manifestações das energias Tifonianas de 470, que requerem cuidadoso e equilibrado controle.  Como indicação disto, será útil notar que 470 combinado com 93 produz 563 - o número de HThNIN HGDVL, o Grande Dragão.  Adicionalmente, 470, combinado com 418 dá 888 - o número de ChPTz NSThR -, aquela Vontade oculta, que também é “Conhecimento & Deleite” como já vimos anteriormente.

            A frase “todas as coisas de senso e raptura” pode provavelmente traduzir-se como KL-DBRIM ChVShIVTh VHThLHBVTh, cuja soma é 1890 - um número que ainda requer maiores qualificações.  A palavra para êxtase ou raptura é HThLHBVTh (848), e que literalmente significa flamejantes ou abrasamento, derivando-se da raiz LHB (queimar, uma chama).  LHB é uma das duas básicas palavras para “chama” e seu número é 37.  Sobre 37, como um número primo, Crowley comenta no 777:

“A unidade ela mesma em sua manifestação trinitária equilibrada.”

            Isto corresponde a IChIDH, o somente Um ou único Si.  A outra palavra para chama é LHT e seu número é 44; e aquele de DLI (Aquarius), DM (sangue) e TLH (Áries).

            Juntamente com a Serpente (ou Cobra), a Chama é o maior atributo de Hadit através de todo o Liber AL.  LHT HNChSh, a Chama da Serpente, é 407, tem sido mencionada em conexão com “drogas” estranhas.

            Em Liber AL, II, 6, Hadit declara:

“Eu sou a chama que arde em cada coração de homem, e no centro de cada estrela.  Eu sou a Vida e o doador de Vida, ainda que por isso seja o conhecimento de me o conhecimento da morte.”

            HLHB HBOR, a “chama” que queima, tem por número 319, aquele que CLVShHM, senso, sentido, alegria.  HLHB HBOR-LB ADM é uma tradução de “a chama que queima no coração de todo homem” e seu número é 448, igualado com BOLIM HARTz, “os senhores da terra” (AL, II, 18).  Uma mais significante tradução será HLHB HBOR BKL-LB AISh, que soma 714, o número de HRTzVN HNChSh, a Vontade da Serpente.  Disto, o “senso e raptura” da cobra são realizados pelo erguimento destas “chamas ocultas” que são LHTIM HNSThRIM HADIT, o secreto ardor de Hadit, já identificada com  ChPTzNSThR, Vontade oculta, por sua comum Gematria 888.

            Como Aleister Crowley declara:

“O segredo da magia(k) é inflamar-se em oração.  Este é o teste de uma Estrela, que ela seja um turbilhão flamejante através do espaço.”

Comentários Mágicos e Filosóficos, pág. 209.

            Esta é a base do Êxtase de Hadit, a experiência da qual está descrita no Segundo Capítulo de Liber AL.  Um elemento chave desta experiência é aquele do “beijo”.  Por exemplo, em Liber AL, II, 67, temos:

“Aguenta!  Aguenta! Firma em tua raptura; não caias no desmaio dos beijos excelentes!”

            A palavra para “beijo” é NShQH (465), derivada da raiz NShQ, que não somente significa beijo ou abraço, mas também inflamar ou “por fogo”, sendo uma apropriada palavra para ser usada em conexão com o êxtase (HThLHBVTh) de Hadit, a chama que queima.

            AL, II, 44, declara:

“Sempre!  Festejai!  Regozijai-vos!  Não existe temor daqui em diante.  Existe a dissolução, e eterno êxtase nos beijos de Nu.”

            HNShIQVTh NV, beijos de Nu, tem como número 927.  Isto os identifica com HSh QVTz MShVMM, a “abominação da desolação” (Daniel, 11), e com ThNIN HTzAVH, o Dragão da Luxuria.  Estes conceitos são paralelos na Santa Cabala por APOLEIA (922), que significa destruição, perdição, inferno; e THERION KOKKINON (927), a Besta Escarlate (ou Cobra - uma igualmente boa tradução para THERION).  A Dissolução, Desolação ou Destruição refere-se à extinção do consciente, do ego raciocinante no êxtase eterno puro, na raptura ou ascensão do subconsciente, na vontade oculta, representada pela Serpente Vermelha do Ardor.

            Isto compartilha da experiência dos beijos de Nu.

            Finalmente, AL, II, 62, proclama:

“Eu estou erguido em teu coração; e os beijos das estrelas chovem forte sobre teu corpo.”