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Os Livros Sagrados

Sérgio Bronze

 

Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.

 

A grande maioria dos Livros da Verdade parece, em uma leitura superficial, completamente ambíguo em sua construção. Esta sensação de dualidade é muito mais decorrente da nossa mente dual, do que da Verdade que ali é exposta. Estes livros não são escritos para a grande massa dos seres humanos, pois são para eles fechados na Verdade, sendo muito pouco compreendido. Os livros são escritos para iniciados, mas de um nível mais elevado e apenas para compreensão individual. Consequentemente, a institucionalização de tais Livros, isto é, a criação de uma religião baseada nos mesmos, acaba por corromper completamente o objetivo primeiro dos mesmos. Nesta institucionalização acaba por ocorrer a inclusão de elementos estranhos na filosofia central dos Livros.

 

道 可 道, 非 常 道

 

O mundo fenomênico se dá através da mente de cada um, isto quer dizer que, cada ser vivente cria a sua própria realidade: cria o mundo em que se vive, em que se sofre, em que se alegra, em que se odeia, etc. Este mundo mental acaba por afetar a maneira como cada ser sente a si mesmo em relação aos demais seres. É este sentir que acaba criando a raiz de todas as ilusões e, consequentemente, de todo o sofrimento. A fonte mais profunda do sofrimento humano tem como ponto de partida a mente, mas a mente é apenas o princípio inocente, pois são os sentimentos ou o defeito em sentir que gera realmente todo o sofrimento. A mente é defeituosa por natureza de sua criação desde o nascimento. A raiz é a mente, mas o corpo do sofrimento está na falta de sentir corretamente. A expressão máxima desta falta correta de sentir está nos desejos que nunca cessam. Para cada desejo satisfeito surge outro ainda maior e mais violento. O ser humano, verdadeiramente, não sabe sentir, não sabe sequer amar e isto nos foi condicionado por cultura.

 

Também podemos perceber quando lemos qualquer Livro Sagrado que existe ali um princípio anárquico em sua essência, ao nos mostrar uma condição de extrema responsabilidade perante a vida. Esta responsabilidade entre nós e o universo que nos cerca, e a busca por uma Lucidez divina, faz com que tenhamos um novo e pleno padrão de moral e de conduta. Outra coisa que podemos observar nos Livros é o seu distanciamento da noção comum de religião. Nenhum dos sete Grandes Profetas ou Mestres nos falaram de um Deus tal como as pessoas pensam. Até mesmo aquele que pudesse ter um “discurso” mais dualista nos estava falando sobre a existência de um Deus externo e todo poderoso, que controla os desígnios humanos, fazendo de nós seu joguete. A noção que nós, seres humanos, temos em relação à ideia de Deus é fruto de nossa própria ignorância em compreender as Palavras destes Profetas.

 

À medida que o tempo passa fica cada vez mais fácil o não entendimento das Palavras destes Profetas e o afastamento da sabedoria que Eles tentaram nos mostrar. Cada um dos Hierofantes que vem depois destes Profetas, trazem suas próprias interpretações e, consequentemente, a deturpação, até que chega um ponto que aquelas Palavras estão completamente dissociadas da Verdade original. Isto ocorre, basicamente por dois motivos: primeiro, que são iniciados menores quem começam a tomar conta das Palavras e as transformam em conhecimento simples e puro, afastando o Espírito da letra, por total incapacidade de compreenderem este Espírito; segundo, porque está ali um meio para a manipulação dos “prazeres” destes que agora estão de posse de tais conhecimentos.

 

Todos os Livros da Verdade nos falam da necessidade de uma guerra total, da necessidade do uso da força contra os nossos infiéis, como alguns diriam. Sem guerra é impossível haver paz e cada momento de paz é uma preparação para os momentos de guerra que logo virão. Existem tréguas curtas e esporádicas, para que possa haver um dia em que os nossos inimigos estarão completamente dominados. Nesta guerra dois lados se confrontam depois que os diversos inimigos já escolheram o seu lado. E, no entanto, estes Livros nos ensinam a arte de Amar os nossos inimigos e como essa conversão nos leva para um estado divino.

 

Amor é a lei, amor sob vontade.

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