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Pequena Introdução ao Tarot

Sérgio Bronze

 

Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.

 

O Tarot, ao contrário do que muitos pensam, não foi desenvolvido inicialmente para ser um oráculo que prediz o futuro. Ele foi desenvolvido para servir de representação gráfica de todo o processo pelo qual os Iniciados terão de passar. E como se isto não fosse o bastante, também serve para o homem não Iniciado como um processo de autoconhecimento de si mesmo e, consequentemente, do outro.

 

O Tarot possui uma estrutura dentro de si tão harmônica e tão realista em relação a realidade humana, que muitas vezes me vem a ideia de que tal estrutura não poderia ter sido criada pelo ser humano, mas por consciências divinas. Corroborando com que Elifaz Levy já escreveu a respeito dos 78 Atus[1], o Tarot é tudo aquilo que o ser humano necessita para a compreensão de si mesmo e do Universo. Tudo aquilo que já fomos, que somos e que iremos ser está ali, estampado em símbolos, estimulando nosso inconsciente a nos fazer ir mais depressa nesta jornada individual. Consequentemente que, este estímulo muitas vezes pode fazer com que o estudante se desestimule em prosseguir em um caminho seguro por se achar incapaz de realizar o trabalho necessário.

 

Todas as mudanças, i.e., a evolução que o Tarot tem sofrido ao longo dos séculos refletem o próprio desenvolvimento humano, em todas as áreas do saber. Assim sendo, todas as Tradições que auxiliam o desenvolvimento do Tarot estão em perpétuo desenvolvimento. Conseguimos encontrar dentro dele Tradições como a Yoga, a Magia, a Cabala, a Alquimia, além dos diversos sistemas filosóficos religiosos encontrados ao redor do planeta Terra, o que nos obriga a compreender e a fazer as inter-relações com os sistemas religiosos, culturais, etc.

 

Ser um estudioso do Tarot, ou seja, ser um Tarólogo, é mais do que simplesmente interpretar os Arcanos em um jogo de adivinhação, mas é o de conhecer profundamente tudo o que permeia as setenta e oito lâminas ou Atus. Ser um tarólogo é completamente diferente de ser um cartomante. O tarólogo se utiliza de terceiros para a compreensão ainda mais profunda dos Arcanos, de si mesmo e do outro com o consentimento do consulente, que ainda o paga para essa pesquisa. O cartomante apenas busca tentar decifrar o que os Arcanos conversam entre si, assim como uma criança escutando a conversa dos adultos sem compreendê-la de todo, e ainda é pago por isso. Utilizar esta ferramenta é se valer de profundo conhecimento, técnica na manipulação, sensibilidade, isenção e experiência de vida, tudo ao mesmo tempo e em uma única direção.

 

Algumas pessoas me perguntam se é correto receber dinheiro para interpretar o Tarot e eu digo sempre que sim. A base das relações humanas é de troca, se eu faço algo para você ele deve ter uma retribuição. Tudo aquilo que é dado de graça não estabelece uma relação. E isto acontece tanto aqui embaixo como lá no alto. As trocas devem ser sempre justas. É uma mentira essa coisa de altruísmo, de fazer algo sem esperar nada em troca, pois é da condição humana sempre esperar algo do outro, nem que seja só uma simples demonstração de carinho.

 

Em um documento original da Hermetic Order of the Golden Dawn, que possivelmente nunca foi publicado externamente, conhecido por Documento T (R2) é dito: “Ao se entrar no mundo hermético dos Arcanos do Tarot o estudante deve ter claro em si que este é um processo que o fará descortinar uma realidade diferente de qualquer outra que ele possa imaginar”. No mesmo documento é ainda dito: “O estudante deve ter claro que agora estará entrando na realidade de Deus”.[2] Pela experiência que acumulei ao longo de anos de estudos e práticas, posso dizer que o Documento referido está correto; não apenas percebemos o esforço do ser humano em sua compreensão e em seu aprimoramento, assim como a da ajuda “divina” em nos auxiliar em nosso desenvolvimento. Ora, essa realidade divina que é descortinada, nada mais é do que o nosso mundo que é exposto de maneira contundente diante de nós.

 

Uma das descobertas realmente interessantes é que, durante uma pesquisa os Arcanos são capazes de abrirem portais em nossa consciência. No entanto, estes portais só conseguem ser abertos se o tarólogo estiver completamente isento e sua pesquisa. É quase que como se conseguíssemos ouvir outra voz reverberando através desses portais, vozes estas que nem sempre concordam ou falam aquilo que gostaríamos de ouvir. Estas vozes internas, que reverberam em uma conversa com o nosso silêncio são fruto do nosso real desejo em evoluir. Essa esquizofrenia controlada é, em algumas vezes, auxiliada por visões curiosas, mas isto já é um pouco mais raro.

 

Consequentemente, percebemos que o Tarot é um instrumento, que muitas vezes é chamado de oráculo, diferente de qualquer outro conhecido. É um exercício constante de Inteligência, de sensibilidade, de conhecimento e de experiência de vida. Se o estudo e a prática com os Arcanos não levarem o tarólogo a um patamar mais elevado, com certeza que o caminho tomado está errado. O Tarot não esconde nenhum segredo, lá estão toda as correlações das atividades mundanas e divinas do ser humano, se há algum segredo este se encontra na deficiência de cada estudante perante sua própria maturidade. Quando ensinamos o Tarot e toda sua estrutura, estamos apenas mostrando ao aluno como enxergar de maneira mais ampla e profunda, aquilo que geralmente é escondido na superficialidade. O resto é com ele.

 

Amor é a lei, amor sob vontade.

 

 

 

[1] Palavra egípcia que quer dizer Arcano ou algo oculto.

 

[2] O Documento T (R2) quer dizer: Documento Tarot, Segunda Revisão.

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