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Sobre o Novo Aeon

Petrópolis, 02 de fevereiro de 2015 e.v.

 

Amada Jaque;

 

                                                                                  Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.

 

Antes de tudo me desculpe por ter esquecido completamente sobre o seu pedido em relação ao material sobre o Novo Aeon ou a Era de Aquário/Leão. São muitas coisas na cabeça e sou apenas um, nem sempre consigo dar conta de tudo. Devo dizer que fiquei triste em não ter realizado o seu pedido, mas agora resolvi escrever alguma coisa sobre o que sabemos e que poderá futuramente ser aproveitado em suas palestras, caso haja outra oportunidade. Muito do que será exposto abaixo é observação e fruto de alguma experiência direta, portanto, se houver algo que você possa aproveitar desta carta, seria interessante outros também saberem.

 

Você, melhor do que qualquer outra pessoa no mundo, sabe o quanto estou envolvido em Thelema e como esta Filosofia faz parte do que sou, pois tudo o que me tornei é fruto do Conhecimento e da Sabedoria que emana dela. Muitos dizem que Thelema não é uma religião, mas sou da opinião de que ela é uma Religião, mas diferentemente das demais que conhecemos é uma Religião individual e nunca deverá ser coletiva, desde que ensina que o máximo que poderemos conhecer sobre algum “deus” é a partir de nós mesmos. Não quero pregar a minha certeza e nem vou querer falar demais sobre a Filosofia, mas foi através da visão que ela me dá que consigo compreender o mundo que nos cerca.

 

Em 1904 e.v. (era vulgaris) o nosso Profeta recebeu na cidade do Cairo, nos dias 08, 09 e 10 de abril um escrito que ele mesmo, a princípio, duvidou de sua validade. Este escrito é conhecido por Liber AL vel Legis[1]. Este livro, assim como todos os demais e verdadeiros Livros Sagrados que a humanidade conhece, não é metafísico como as pessoas acreditam. A espiritualidade para os Mestres é a Fraternidade e é isso que Eles buscam de nós, nos refinar no Amor para que possamos ver em nossos semelhantes uma fração importante de nós mesmos. Através do Amor (que é a Lei) é que somos capazes de realizarmos a missão de nossa existência aqui neste pequeno planetoide. Esta missão é conhecida por Verdadeira Vontade, que é o motivo pelo qual cada homem e cada mulher encarnam sucessivamente. Os hindus dizem que devemos encarnar 160 vezes, mas por causa da nossa ignorância, encarnamos mais do que isto, infelizmente, mas este é um outro assunto.

 

Algumas pessoas acham que foi em 1904 e.v. que a Nova Era começou, mas elas estão enganadas, não se muda de Era como se acende uma luz. É necessário um período de Ajustamento entre o antigo e o novo que ainda viria. Este período é conhecido iniciaticamente por Aeon de Maat, que era a “divindade”, o Princípio ou a Essência, da Justiça ou do Equilíbrio cósmico.[2] O planeta precisava se ajustar para receber uma nova Lei, um novo Princípio de Liberdade, Amor, Vida e Luz. Como este é um período de destruição e de recriação, ou seja, de regeneração, este curtíssimo Aeon é caracterizado por grandes catástrofes mundiais, como foram a Primeira e a Segunda Grandes Guerras. Muito karma[3] é gerado, ou seja, muitas ações sem objetivos aparentes são realizados, mas têm um objetivo, que nem todos compreendem. Maat equilibra e expurga aquilo que precisa ser eliminado, e equilibra aquilo que ainda é considerado válido.[4] Nesta passagem de Aeon nunca na história da humanidade tivemos tantos Gênios encarnados, em todas as áreas das ciências e das artes, e isto é necessário para que a humanidade não perca o seu rumo, para que ela veja a luz adiante no meio das trevas, e nisto o Profeta foi brilhante e ele teve ajuda de todos esses Gênios humanos, pois a tarefa era árdua.

 

A ideia de uma Nova Era é acompanhar a evolução psíquica e tecnológica da humanidade, chega a um ponto que antigas ideias, conceitos, pensamentos, filosofias, se tornam em um grande entrave para o desenvolvimento da humanidade como um todo. Aquilo que servia no passado pode não mais servir hoje e isso é o que nós chamamos de Tradição. Tradição é algo que evolui lado a lado com a humanidade e não algo que se mantém imutável através dos séculos, isto é dogmatismo e todos os dogmas são prisões para o desenvolvimento humano. Na religião, o Aeon de Hórus, como é iniciaticamente conhecido, veio para destruir toda a ideia de que a existência é “puro sofrimento”, de que vivemos em um mar de horrores, de que somos frutos de algum “pecado original”. Este Aeon veio para nos mostrar que a existência é puro Prazer, desde que saibamos o que desejamos da vida: quando se sabe o que se quer, se deixa de ser escravo de filosofias e daqueles que nos dizem o que devemos querer.[5] Portanto, esta Era joga no nosso colo uma enorme responsabilidade, nos livra do conceito de um Deus onipresente e onipotente, e nos devolve a responsabilidade pela nossa existência. Quando Nietzche disse que: “Deus está morto”, ele vislumbrava esta Era que estava por chegar, uma Era onde cada um de nós é responsável por nossos atos: uns com os outros e com o mundo ao nosso redor.[6] Se não existe nenhum Deus pra me ajudar, me proteger, me guiar, me consolar (...) só tenho nas pessoas ao meu lado para fazê-lo; perceba bem a beleza disto! Os Mestres nos livraram da ideia de punição aqui e no além, e nos mostraram as Portas para o Paraíso.

 

A grande religião do Antigo Aeon que trazia todos esses conceitos de punição e de desgraça da existência era o Budismo. No planeta temos três grandes Escolas de Iniciação: a Amarela, a Negra e a Branca. Cada uma destas escolas tem uma religião que as representa, que é a Essência do seu Pensamento. A Escola Amarela é representada pelo Taoísmo; a Escola Negra pelo Budismo; e a Escola Branca, por Thelema. Estas Escolas se diferenciam pela maneira como elas veem e lidam com a ideia do Sofrimento; se você quiser posso enviar um texto que fala aprofundadamente sobre este assunto, que é bem interessante. O que percebemos é que, o Budismo influenciou completamente o mundo ocidental através do judaísmo e do cristianismo, e também, pasme, através do islamismo. Ou seja, nós aqui do ocidente, cuja Tradição pertence à Escola Branca, fomos aprisionados em uma filosofia que nada tem haver com a nossa Natureza. O Taoísmo e o Budismo, assim como as demais religiões orientais são lindas e maravilhosas, mas só servem para eles: refiro-me à filosofia e não às práticas.

 

Este Aeon é também chamado de Aeon do Filho, o conceito por detrás disto é complexo demais para ser explicado aqui, sendo que o Filho é o Andrógino. Já tivemos um Aeon matriarcal, outro patriarcal e este é o do filho, que une o macho e a fêmea em si mesmo. O que vemos acontecer gradativamente na sociedade é a busca pelo equilíbrio entre homens e mulheres. Vemos as pessoas assumindo a sua homossexualidade, a mulher conquistando espaços na sociedade, o homem assumindo os deveres do lar e por ai vai. As mulheres não andam mais dois passos atrás, mas ao lado do homem no campo de batalha. As sociedades que ainda tratam a mulher como um ser de segunda categoria tendem a se desmoronar e o islã é o exemplo atual e mais claro disto: que eles morram em sua tolice. Eu poderia ficar horas escrevendo sobre o mundo em que vivemos, de como a preocupação com a saúde e com o meio ambiente assumem cada dia mais importância. Sim. A Nova Era já começou, ao contrário de muitos que dizem que ela ainda irá começar, porque essas pessoas não percebem ou não sabem o que é Hórus, o senhor da guerra e das transformações radicais. O Novo Aeon se iniciou no ano de 1950 e.v., portanto, o Profeta não viu a chegada deste Aeon, ele faleceu em 1947 e.v. O Aeon de Maat durou quarenta e seis anos.

 

O que demonstra que o Aeon de Hórus começou em 1950 e.v.? Ora, neste ano a China, dita “comunista e ateia”, invadiu o Tibet, o último grande bastião do Budismo, aquele lugar indevassado e santo, livre das mazelas humanas, como eles gostariam que fosse. Caiu. Caiu aquele lugar, que não deixa saudades, que procurava se manter puro sabe-se lá do que. Eles, pela força e vigor das armas, foram obrigados a se espalharem pelo mundo e a compartilhar com todos os seus “ensinamentos secretos”. Eles criaram os muros dos mosteiros e dos monastérios, na tentativa de se manterem “castos” diante de um mundo que eles negavam dizendo ser “pura ilusão”. Se você acha que estou sendo insensível com eles, estude a História, eu iniciei meu Caminho com eles e ao longo dos anos percebi o que me afastara deles.

 

Os primeiros anos da Era de Aquário/Leão foram marcados pelo equilíbrio de forças entre ocidente e oriente, entre capitalismo e comunismo... É necessário equilíbrio para que não haja uma destruição desnecessária, sem objetivo. As duas Guerras Mundiais tiveram um objetivo e por isso elas tiveram de ocorrer: a Primeira Guerra terminou com os últimos Estados Absolutistas[7] e com a ideia de que um homem ou uma mulher (reis e rainhas) eram superiores e divinos sobre todos os demais; a Segunda Guerra estabeleceu definitivamente os Estados Nacionais, e pasme, nisto Hitler[8] foi fundamental para a Alemanha que conhecemos hoje, apesar de tudo. Elas, as duas Guerras, foram fundamentais para a evolução tecnológica e social que o mundo ocidental atingiu e que ainda atingirá.[9] Nos anos sessenta, tivemos a primeira grande manifestação da Era de Aquário/Leão, com o movimento e a filosofia hippie. Tivemos ali a ideia de comunidade, de iguais em ideais vivendo juntos (Aquário), sem jamais perderem a sua individualidade (Leão). O movimento hippie foi o precursor de muitas das ideias que perduram até hoje: vegetarianismo, contestação social, igualdade civil, liberdade sexual, o uso de drogas para se atingir estados elevados de consciência, ecologia, etc., etc. Foi o primeiro movimento, mas infelizmente talvez não venhamos a ver o próximo movimento, mas o que construímos é sempre para as futuras gerações, nunca para nós mesmos.[10] Lembre-se sempre do conceito de Fraternidade!

 

No entanto, existe algo mais profundo e espiritual por detrás desta Era em que vivemos. Vivemos na Era do Conhecimento e isto é algo bem complicado. Ter Conhecimento não quer dizer que se tenha Sabedoria ou Entendimento para lidar com aquilo que temos em mãos. Em Cabala chamamos isto de Esfera de Daath ou Conhecimento. Daath é a mais pura confusão, uma confusão gerada pelo não Entendimento do que seja o Amor. Você me ensinou o que é o Amor e é por isso que estou escrevendo esta carta, movido pelo Amor. Daath é o desvelamento daquilo que achávamos que éramos, só que não somos aquilo que acreditamos ser: somos seres divinos, sagrados, santos. O problema, é que não nos comportamos como tais, muito pelo contrário. Continuamos a nos comportarmos como seres bestiais e amedrontados, mas tenho certeza que superaremos esta nossa adolescência psíquica e tecnológica. Todos se agarram em suas teorias, só que todas elas possuem suas antíteses e Daath está aqui para levar-nos às nossas sínteses, isto é, ao Entendimento de que não existe absolutamente nada no Universo, seja ela boa ou ruim, que não sirva para a nossa Evolução.[11] A pessoa que escolhe algo em detrimento do seu oposto está caindo na mais completa confusão; o símbolo do Tao é a representação gráfica mais perfeita disto. Em Daath conhecemos o Amor através de tudo àquilo que jamais imaginaríamos que pudesse conter o Amor. Este princípio de Era tem sido apenas um pequeno exemplo do perigo que corremos, mas eu acredito na espécie humana e na sua capacidade de superação. A destruição das teses pelas suas antíteses gera uma terceira coisa, radicalmente oposta às duas anteriores, seus pais, que é a síntese. Por causa dessa violência, regida pelo verdadeiro Amor pela Transformação, que este Aeon é chamado de Aeon de Hórus, o Princípio ou a Essência da Guerra: guerra aqui é aquilo que faz com que a humanidade evolua. Há muito tempo atrás, o meu Mestre me disse: “O homem comum só evolui através das guerras, mas o iniciado só evolui através da Vontade”. Isto é mesmo uma grande Verdade!

 

Eu havia citado o Liber AL vel Legis no início desta carta, por que este Livro Sagrado nos fala sobre qual é o tipo de comportamento que cada um de nós deverá ter ao longo desta Era. Não é um livro espiritual na essência, mas um código de comportamento e uma Luz jogada sobre o passado direcionado ao futuro. É a visão que estes Mestres desejam de cada um de nós, sejamos ocidentais ou orientais. Nunca mais haverá um Livro apenas para um ou para outro. Somos uma grande Família, uma grande Fraternidade, que ainda não conseguiu se livrar do burburinho do seu egoísmo. Mas nós chegaremos lá! Eu vejo esta Era com Alegria e me orgulho de poder fazer parte dela, e de contribuir para o seu estabelecimento de forma correta e clara. Eu procuro ensinar aquilo que tive a honra de poder aprender, conhecer e descobrir; e por mais estranha que esta carta possa parecer, ela é escrita com o intuito de aproximar a todos. Pois como disse minha mãe antes de partir para Casa: “Juntos nós somos mais fortes”.

 

Sei que muitos prefeririam acreditar que esta Nova Era fosse uma Era de Ouro, enquanto que outros dizem por ai que viveremos a pior de todas as Eras. Mas eu sei que nestes próximos quinhentos anos teremos grandes desafios pela frente e que até lá devemos estar de pé, de armas em punho, prontos para as batalhas que virão. Os próximos mil e quinhentos anos serão o reflexo daquilo que construímos hoje, nesta primeira etapa. Assim, estaremos nos preparando para a Grande Era que virá, a Era de Hrumachis, outra forma de Hórus, não mais como o guerreiro destruidor e vingador de seus pais, mas aquele que conquistará novos mundos, novos planetas e conviveremos com aqueles nossos Irmãos das Estrelas não mais como se fossem deuses, mas como Irmãos que são. Sim. Talvez daqui a duzentos anos tenhamos contato com estes nossos Irmãos, como já aconteceu nos primórdios da humanidade. Pode parecer meio piegas ou lugar comum, mas eu digo que eles sempre estiveram aqui de uma forma ou de outra, se manifestando sempre que era necessário, pois também são nossos Mestres.

 

Já vivemos a Nova Era e é um privilégio para cada um de nós que estamos aqui hoje, encarnados. Presenciamos o início da Era de Ouro da humanidade, vivemos e temos a obrigação de ajudarmos uns aos outros na superação da nossa adolescência. Não são os jovens afobados, orgulhosos, inexperientes e arrogantes? Nossa responsabilidade é enorme e se estamos aqui é por que os Mestres acreditam que somos capazes de auxiliá-los nesta tarefa; e eles nunca se enganam. Que o nosso Caminho seja repleto de Prazer por aquilo que fazemos e por aquilo que somos. Eu ainda não vejo nas pessoas que passam por mim na rua como meus iguais, eu vejo em suas Almas o quanto somos iguais, mas este dia está próximo. Infelizmente, não tenho como expor aqui tudo o que percebo e tudo o que aprendi, mas acho que esta carta pode ser um bom começo para as suas próprias pesquisas.

 

Amor é a lei, amor sob vontade.

 

Com amor, Sérgio.

 

 

 

 

[1] AL se refere ao ser humano que é guiado para uma tarefa divina. O vel Legis significa: ou da Lei. A palavra AL ou EL muitas vezes é referenciada a ideia de Deus, mas é uma deturpação de linguagem. Esta terminologia se refere ao divino que existe em cada um de nós.

 

[2] Os egípcios não acreditavam na ideia de deuses como muitos acreditam atualmente, eles eram mais refinados neste assunto. A palavra Neter que foi traduzida erroneamente por “deus” ou “deusa”, que dizer: Princípio ou Essência.

 

[3] Apenas três coisas geram karma no Universo: ódio extremo, dor extrema e amor extremo.

 

[4] Estes são os dois princípios básicos universais, representados nas imagens de Shiva e Vishnu, na tradição oriental hindu.

 

[5] Veja bem a minha relação com o Kaanda, seu poder sobre mim terminou quando soube o que realmente queria.

 

[6] Pode parecer esquisoterismo, mas Nietzche é considerado como um dos grandes Mestres da humanidade, assim como Fernando Pessoa, o maior poeta da língua portuguesa.

 

[7] Feudais.

 

[8] Esta figura patética é considerada fichinha perante os grandes genocidas que a História já presenciou.

 

[9] As pessoas sempre me contestam dizendo: como que isto pode ser verdade, como que os Mestres permitiriam a morte de cinquenta e seis milhões de pessoas de maneira tão bárbara? E eu sempre digo que a Natureza não se importa com isso, que Ela necessita se Ajustar e para fazer isto ela utiliza todo e qualquer meio. A morte é a coroação da existência, as pessoas olham para ela e só veem sofrimento, mas elas estão enganadas. O terrível nesta história foi o movimento kármico gerado pelo ódio e pela dor extrema, mas no fim o amor sempre prevalece. Havia duas forças opostas se digladiado: aquela que buscava o passado (Alemanha, Itália e Japão) e aquela que contemplava o futuro (Inglaterra, Estados Unidos e China).

 

[10] Tudo o que fazemos é pelo Gabriel, seus filhos, seus netos...

 

[11] Aqui encontramos o conceito mais profundo da Alquimia.

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